O paternalismo na gestão

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Alguns anos atrás, convidado pelo CEO de uma grande companhia, compareci à reunião agendada e após identificar-me na recepção, a sua secretária anunciou pelo telefone: “Pai, o consultor acabou de chegar.” Como é incomum a filha de um executivo ser a sua própria secretária – pelo menos em companhias maiores –, o fato chamou a minha atenção.

Poucos minutos depois, entrando na sala da presidência, um dos colaboradores se despedia dele dizendo: “Pai, fique tranquilo! Eu cuidarei de tudo o que o senhor me pediu.” E a recomendação do CEO foi: “Se surgir alguma dúvida, não pense duas vezes para me procurar”.

Eu até poderia pensar que se tratava de outro filho trabalhando por lá, mas como a diferença de idade entre os dois era mínima, percebi que não podia ser isso. Bem, a realidade é que quase todo mundo o via mesmo como um pai e logo compreendi: a empresa não precisava de um consultor e sim de um terapeuta.

É claro que o exemplo dessa companhia é algo fora da curva, mas não ignore os danos que um gestor paternalista pode provocar aonde você mesmo trabalha prestando atenção em alguns comportamentos.

Em primeiro lugar, eles geralmente são centralizadores. É por isso que a sua mesa permanece lotada de coisas, orgulham-se de não tirar férias, ficam no escritório até mais tarde e precisam levar trabalho para casa nos fins de semana.

Isso acontece por causa do péssimo hábito de tomarem para si as tarefas que cabem aos liderados, deixando de lado aquilo que realmente importa em seu papel. E quando alguém os alerta a respeito, logo afirmam: “Mas eles não sabem fazer direito e eu preciso disso agora. Além do mais, se for para ensiná-los vai levar um tempo maior do que se eu terminar sozinho”.

Para os colaboradores diretos, a consequência nefasta é que acabam poupados de tarefas complexas que os ajudariam a se desenvolver, acomodam-se e só enxergam os danos na carreira quando passam por uma demissão e ninguém mais quer contratá-los.

Seguindo o mesmo raciocínio, também pare de fantasiar que um “paternalista-raiz” é capaz de formar sucessores. Ele acredita que ninguém da equipe tem potencial de substituí-lo e, em alguns casos, ainda se vê como um enviado de Deus.

Mas será que existe um contexto no qual o estilo paternalista pode ser adotado com sucesso? Existe sim. Quando o seu time – ou algum dos liderados – detém alta capacidade técnica, mas se encontra temporariamente desmotivado com o trabalho, é necessário oferecer o tipo de suporte emocional que é tão caro a um paternalista. Contudo, tão logo a pessoa recupere a motivação, é preciso deixá-la caminhar por conta própria.

Colaboradores capazes e autoconfiantes não são obra do acaso e sim o reflexo de uma liderança madura e que inspira as pessoas a também amadurecerem. Quem espera ser reconhecido como oráculo ou super-herói e ainda faz tudo para perpetuar a incompetência alheia está longe disso.

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