Não precisamos saber de tudo​

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pilha-de-livros-600x450Atualmente, uma das principais fontes de angústia dos trabalhadores é o fato de que, mesmo investindo em sua formação periodicamente, às vezes eles permanecem com aquela sensação de que “ainda há muita coisa a aprender”. Alguns chegam a dizer: “Afinal, quando estarei pronto?”

Dias atrás, conheci uma pessoa que abandonou sua carreira ascendente como profissional de TI numa empresa multinacional, depois de duas faculdades, certificações Microsoft e um MBA, para ser motorista do Uber. Ele disse que simplesmente cansou de ter de acompanhar as mudanças pelas quais a área passa constantemente. “Não tinha mais saco para continuar estudando”, afirmou.

É claro que estar antenado a tudo aquilo que surge de novo é condição básica para algumas carreiras – como é o caso daquela que escolhi –, mas isso não é e nem será motivo de desespero para quem ama o que faz. Recordo de um profissional experiente que foi trabalhar em nossa empresa alguns anos atrás e dois meses depois disse que não queria mais continuar porque a exigência de leitura na consultoria era incompatível com aquilo que ele almejava para a vida dele. Como o jovem que citei no início do texto, um outro exemplo de alguém que, ao menos, sabia o que não queria.

Quanto mais estudamos, mais percebemos a profundidade da nossa ignorância. Porém, abandone aquela ideia de que você só aprende de verdade quando frequenta a sala de aula. Há algum tempo, tenho o hábito de buscar soluções para problemas triviais, como aprender a usar corretamente a minha cafeteira, assistindo vídeos no YouTube. Creio que você também faça a mesma coisa.

Aliás, o YouTube é um mundo à parte. Quantas coisas bacanas podemos aprender com gente interessante naquelas palestras de 15 minutos do TED. Ou então assistindo as aulas da Khan Academy. Os podcasts também são uma ferramenta preciosa de aprendizagem para quem gosta de aprender ouvindo. Ou seja, na era digital, o conhecimento está a apenas um clique, e o melhor: é gratuito.

Diante disso, antes de se matricular em uma nova formação ligada à sua carreira, avalie se é isso mesmo o que você precisa no momento. Talvez aquele tão sonhado curso de culinária não some mais linhas ao seu currículo, mas, na prática, o deixará feliz e realizado. Que tal arrumar tempo para andar de bicicleta ou jogar um futebol com os amigos? O estímulo do seu potencial criativo e a renovação do entusiasmo para trabalhar podem vir justamente da prática de um hobby ou esporte e não necessariamente da pós-graduação.

Sou um leitor voraz, mas estou cada vez mais consciente de que aprendo de verdade durante as viagens ou quando tenho a oportunidade de conhecer gente nova. Apesar de ser apaixonado pelos livros, é em ambientes não rotineiros e junto a pessoas que têm boas experiências para compartilhar que aguço a criatividade e muita coisa aprendida lá atrás passa a fazer sentido.

A impressão de que você ignora muitas coisas não deve ser motivo de angústia. Ninguém mais sabe, nem saberá de tudo. É só relembrar aquela conhecida pesquisa: o conhecimento deve dobrar a cada 73 dias a partir de 2020. A questão é se você domina aquilo que realmente precisa.

Durante algum tempo, as pessoas acreditavam que ter as respostas na ponta língua era a coisa certa. Hoje, ninguém deve ter vergonha de dizer “Eu não sei”; tampouco sonhar com o dia em que, enfim, se tornará um oráculo. Desde que você saiba onde buscar a informação que precisa, esteja ela em livros, sites ou com amigos da sua rede de relacionamentos, está tudo certo.

A cultura do descarte fez com que muitas pessoas sentissem a necessidade de serem “recicladas”. O que elas esquecem, porém, é que só reciclamos aquilo que é considerado lixo, algo que, com certeza, não são. Talvez o que precisem nesse momento é colocar em prática aquilo que já sabem há algum tempo. Isto é, abandonarem as velhas desculpas. Infelizmente, cada vez mais pessoas acumulam uma penca de certificados de cursos, mas não sabem o que fazer com o conhecimento adquirido.​

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