Como lidar com seus pares

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Gente que costuma bater metas e tem um bom nível de proatividade de vez em quando me pergunta: “Por que é tão difícil contar com o apoio dos meus pares no dia a dia?” A resposta é simples: o êxito profissional de uma pessoa pode desagradar alguns indivíduos, sobretudo se ele ocupa um papel de média gerência.

A acirrada disputa pela atenção do alto staff e pelos poucos cargos de gestão estratégica disponíveis na hierarquia organizacional faz com que muitas pessoas que atuam em posições gerenciais compreendam o sucesso de um igual como prova inequívoca do seu próprio fracasso. E daí a repulsa vem com força.

Quadro diferente daquele visto no nível operacional, em que a briga pelo poder é bem menor, os interesses são reconhecidamente próximos, as pessoas procuram proteger umas às outras, gestos de companheirismo fazem parte da rotina de trabalho e a demissão de um colega é sentida de verdade pelos demais líderes.

No nível estratégico também há disputa pelo poder, mas ela é geralmente menos agressiva – há exceções, é claro – porque os executivos entendem que “já chegaram lá”. A luta por conquistar espaço, portanto, é travada muito mais fora da companhia do que dentro dela.

Se você quer obter o apoio daqueles que estão à sua volta durante a implantação de boas iniciativas ou, no mínimo, não cultivar inimigos que poderão provocar muitas dores de cabeça, é recomendável seguir algumas práticas:
 
– Não reivindique a autoria. Não torne a mudança organizacional uma vitória pessoal ou da sua área. Muitas vezes vejo que alguns projetos não vão para frente porque seus idealizadores ficam papagaiando a autoria, quando deveriam fazer com que ela fosse vista como um empreendimento de todos. Quem adora os holofotes não cria um clima colaborativo junto aos pares.

– Procure engajar as pessoas, especialmente seus pares, desde o início dos projetos. A partir do momento em que você consegue comprometê-los para aquilo que precisa ser feito, é muito mais difícil algum deles tomar qualquer iniciativa de boicote ao trabalho, afinal também estaria punindo a si próprio. Para isso, procure garantir que as pessoas realizem um trabalho significativo – sob a perspectiva delas – e encontre formas de recompensá-las emocionalmente pelos resultados.

– Identifique possíveis focos de resistência. Conheça muito bem o perfil de cada um dos seus pares para perceber logo quem poderá se opor – direta ou indiretamente – aos projetos que conduz ou, literalmente, “não vai muito com a sua cara”. Na sequência, convide esses líderes para conversar, esclareça os mal-entendidos que existirem, escute com interesse aquilo que eles têm a dizer e solicite o apoio que você tanto precisa. Agir humildemente com quem logo se opõe às suas iniciativas é a melhor forma de torná-los grandes aliados no futuro.

– Não tente ser reconhecido como o melhor de todos. Se você começa a aparecer demais e é alvo de constantes elogios dos superiores, é bem provável que seus pares o isolem e ainda sejam pouco colaborativos dali em diante. Mesmo quando é merecedor do amplo reconhecimento que vem de cima, manter a humildade e compartilhar o sucesso com os colegas faz com que eles não o vejam como adversário e ainda aceitem ser liderados informalmente por você.

Evite querer sempre ter razão, pois ninguém gosta de quem se apresenta como “dono da verdade”. Mesmo que você esteja certo, de vez em quando é necessário recuar nas pequenas coisas para poder avançar nas grandes. Assim você fará com que os demais líderes também sintam o prazer de guiá-lo, em vez de cultivarem a crença de que você é injusto e faz de tudo para inferiorizá-los.

Quem ocupa um papel de liderança precisa não só transmitir aos pares o famoso “tamo junto”. Também deve demonstrar que não quer vencer sozinho nem tampouco às custas do insucesso de quem tem atribuições ou responsabilidades semelhantes. Resumindo: estar disposto a chorar os insucessos e a partilhar os êxitos com quem é igual.

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